Você conhece o Candomblé?
A religião de matriz africana Candomblé foi introduzida no Brasil há séculos atrás pela população que foi escravizada pelos portugueses durante o período da colonização. Foi a partir de seus dogmas que foi criada outra: a Umbanda (uma religião denominada como afro-brasileira).
A palavra “candomblé” significa “dança com atabaques” e é utilizada para nomear a crença que cultua os orixás por meio de danças, cantos e oferendas de frutas, vegetais, minerais, objetos e, às vezes, sacrifício de animais.
Essa religião possui características que a diferenciam das outras, como por exemplo:
- Possui uma hierarquia forte e seus seguidores levam cerca de sete anos para concluir a iniciação;
- Tem mais de 5 mil anos de existência;
- Os rituais são praticados em casas, roças ou terreiros, de linhagem matriarcal, patriarcal ou mista;
- Os participantes devem usar trajes específicos com as cores e guias do seu orixá;
- Há incorporação de entidades que dão benção (axé) aos praticantes;
- Cada ritual pode reunir muitas pessoas, dependendo da capacidade da casa que realiza as obrigações e festas;
- Para ser pai (babalorixá) e mãe (iyalorixá) de santo é preciso viver uma vida com algumas restrições alimentares, de vestimentas e de atitudes. Equivale ao sacerdócio nas religiões cristãs;
- Somente as mães de santo dão conselhos e consultas por meio de búzios;
- As casas de Candomblé cobram pelos trabalhos realizados como forma de sustento;
- A sucessão desses líderes espirituais é hereditária e, quando ela não ocorre, geralmente o terreiro/casa é fechado.
História do Candomblé brasileiro
O Candomblé nagô – oriundo das tradições Ioruba, Nagô e Jeje – teve origem nos territórios da Nigéria e de Benin. Mas, quando ele chegou ao Brasil, foi mesclado aos rituais dos negros de origem bantu (aqueles que vieram de países como Congo, Angola e Moçambique) que já estavam estabelecidos aqui.
Como houve o desembarque de africanos de diversas partes do continente, o Candomblé brasileiro acabou sendo um sincretismo de diversos práticas religiosas e Orixás – cada um deles representa uma força da natureza e tem a equivalência dos santos para os católicos. Eles possuem virtudes e defeitos e expressam a liberdade e o prazer de viver.
Entre o final do século XIX e o início do século XX houve forte repressão as manifestações religiosas não cristãs. Para se ter uma ideia, foi incluído no Código Penal Brasileiro, na época, penalidades para o que foi denominado como curandeirismo e charlatanismo. O objetivo era tentar impedir a atuação de pais e mães de santo.
Para escapar de perseguições religiosas os praticantes destas religiões utilizavam imagens de Santos Católicos em seus rituais. Isso explica, por exemplo, porque a imagem de São Jorge nesta religião representando um Orixá é a mesma do santo das paróquias.Hoje é comum ver as casas utilizarem as estátuas africanas de Orixás como forma de retomar e valorizar a origem da religião.
A pratica religiosa de matriz africana começou a se popularizar no país na Bahia entre os séculos XVIII e XX. Hoje cerca de 1,5% dos brasileiros são praticantes do Candomblé.
Mas, isso não evita que o preconceito e intolerância religiosa acabem. Muitas pessoas acham que Umbanda e Candomblé são iguais e se referem a elas como “macumba”. Outras pessoas acham que elas fazem parte da doutrina espírita.
Para preservar a herança cultural africana foi criada a Lei Federal 6292, em 15 de dezembro de 1975, permitindo que alguns terreiros de candomblé se tornassem patrimônio material ou imaterial passível de tombamento.
A filosofia e seus ritos
O Candomblé enxerga o mundo como ele realmente é. Não existe a divisão excludente entre o bem e o mal, que vemos principalmente em religiões cristãs. As relações entre seus praticantes são baseadas em padrões éticos e de respeito mútuo.
Priorizando uma organização comunitária, a religião permitiu (e ainda permite) aos africanos e seus descentes refazerem os laços afetivos e as tradições que foram rompidas quando eles foram forçados a vir para o Brasil para serem escravizados.
Para participar de um ritual é necessário que se tenha conhecimento sobre os Orixás. Para isso a pessoa é acomodada em um cômodo da casa (runcó) onde permanece durante 21 dias, em retiro, vestida com roupas brancas, tendo contato apenas com o zelador da casa. Após passar pelo processo de saída ela pode frequentar o ritual.
Os rituais iniciam com uma dança para despachar o Exu (o Orixá mais importante que guarda as aldeias, as cidades, as casas, e é o responsável pela comunicação, paciência, ordem e disciplina).
Quando o tambor e os atabaques começam a ser tocados, os filhos de santo começam a invocar seus orixás para a incorporação por meio de cantos (que são orações na língua africana específicas para cada orixá). Os rituais duram mais de 2 horas. Após a incorporação são realizadas oferendas e consultas espirituais utilizando o jogo de búzios (ele funciona como um oráculo para previsões e orientações).