Sangue Sagrado
Na antiguidade, durante a era matriarcal em que a Deusa era fonte primordial de crença, a Mãe Terra era tida como Senhora da vida e da criação de tudo o que há no universo (inclusive do Deus, que era compreendido como seu filho e consorte).
As mulheres também eram consideradas divindades.
Cuidavam da casa, das plantações, dos filhos e eram guerreiras, pois quando seus companheiros ou os grupos de guerreiros iam para as batalhas, muitas delas ficavam para defender seus territórios e sua comunidade.
E havia ainda o ciclo menstrual…
A partir dele que podemos falar dos cultos ligados à Lua. E por consequência da prática denominada “plantar a Lua.”
Hábitos antigos
As mulheres antigamente menstruavam na terra, se recolhiam, formavam círculos (grupos) entre elas, para menstruarem juntas, criando uma corrente de união e honraria à Deusa, que desde sempre fora simbolicamente associada à Lua.
Por isso um ciclo naturalmente equilibrado tem o período de 28 dias, afinal o antigo calendário era lunar e seguia suas fases (que contam 28 dias).
Com o domínio do patriarcado, o calendário foi alterado para o solar (energia masculina), assim mantido até a atualidade.
Nomeado “calendário gregoriano” em razão do papa Gregório XIII, acaba sendo irregular, já que cada mês é contado alternadamente entre 30 e 31 dias. É por isso que o mês de fevereiro possui 28 dias e, para quem não sabe desse fato, esse mês parece até um “furo” no calendário.
Menstruação na antiguidade
Retornando às questões femininas, as mulheres se recolhiam e menstruavam na terra, doando parte de sua energia, feminilidade, sacralidade e agradecendo à Deusa pelo ciclo de suas vidas.
Era um meio de se ter uma maior conexão consigo e com o divino.
Ao longo das eras, as mulheres foram se distanciando dessa conexão, a sociedade foi mudando e exigindo mais delas.
O conhecimento sobre a relação profunda do feminino com a Lua acabou em parte sendo esquecido.
No decorrer das eras…
Com o domínio do patriarcado, a Deusa passou a ter um papel secundário ou mesmo foi deixada de lado.
Com isso, o papel da mulher na sociedade também mudou, os hormônios se alteraram, o estresse aumentou, depressões surgiram. Muitas começaram a sofrer com “falta de tempo” para se integrarem internamente. Os ciclos menstruais foram se desequilibrando, as TPMs tornaram-se mais incômodas e o sangue passou a ser visto como algo sujo e pecaminoso.
Antigamente as mulheres se orgulhavam de seus períodos menstruais, já que o sangue vem do seu ventre: seu “cálice sagrado”, criador e doador da vida, a parte gestante de seu corpo, que dá à luz a um novo ser (sem desconsiderar o sagrado masculino também, a participação do homem como ser complementar à energia feminina na criação da vida).
Mesmo quando surgiram os primeiros absorventes de pano, muitas delas reutilizavam o tecido!
Quando o encharcavam com sangue, torciam o pano na terra ou nos lagos, ou em bacias com água, lavando-o e devolvendo o fluido vital para a natureza.
Deturpação na atualidade
Com os absorventes atuais, surgiram infecções com mais frequência na região íntima das mulheres, por conterem perfumes sintéticos, na ideia de “bloquearem” os odores durante o período menstrual.
O que muitas mulheres não sabem é que o odor surge justamente pelo contato com o sangue mantido no absorvente. Afinal, sangue tem cheiro de ferro, todo e qualquer sangue possui o mesmo cheiro!
E se analisarmos por uma óptica mais holística, o sangue é vida e contém parte de nossa energia, é fluido vital.
Para onde vão os absorventes?… para o lixo. As mulheres passaram a se distanciar, a desperdiçar e contaminar as suas energias!
Criaram-se os medicamentos sintéticos para métodos contraceptivos, que contribuíram para a desarmonia do ciclo menstrual e toda a parte hormonal das mulheres.
Existem até remédios e injeções que fazem com que a mulher pare de menstruar! Ou seja, fazem com que a mulher perca a sua maior fonte de poder.
Assustador, não acha?
Novos tempos, novas alternativas para o resgate de si mesma
Recentemente criaram os coletores menstruais e muitas adeptas já contestam sua eficácia e praticidade.
O coletor mantém o sangue num maior período de tempo, sem precisar trocar a cada 2 ou 3 horas, evitando preocupações e acúmulo de lixo (são laváveis e reutilizáveis), mas ainda assim algumas mulheres não possuem a consciência sobre seu poder, seu corpo, seu precioso sangue e acabam descartando-o descarga abaixo.
Plantar a Lua e o Sagrado Feminino
Existem alguns grupos que trabalham com o Sagrado Feminino, com o objetivo de conscientizarem as mulheres a resgatarem sua conexão com a Deusa interior que habita em todas elas.
Algumas das práticas mais conhecidas são:
Plantar a Lua: regam-se plantas com o sangue diluído em água, para fortalecer suas raízes e recriar uma conexão com a natureza.
Ou então se pode despejar o sangue aos pés de uma árvore, em meio a um jardim, em flores, no mato, etc.
Plantar a Lua é uma prática que pode favorecer um resgate de uma conexão que parece perdida.
Altar Vermelho: é um espaço íntimo e sagrado que cada mulher pode criar, para guardar seu sangue, seja em uma garrafa, uma vasilha ou em qualquer outro recipiente.
Podem ser colocadas flores, imagens de Deusas, fotos das ancestrais, enfim, um altar é um espaço pessoal de cada um, com seus simbolismos que conectam a praticante às suas forças e a seu poder.
Máscara de sangue: utiliza-se o sangue no rosto, criando uma máscara facial. Prática também utilizada por muitas mulheres em diversos períodos da era medieval.
Existiram condessas que se banhavam em sangue para manter a jovialidade da pele.
Isso porque o sangue possui nutrientes que podem contribuir para uma melhora da pele. E o melhor de tudo é que é um método natural, vindo de nosso próprio corpo.
Caderno da Lua Vermelha: algumas mulheres gostam de anotar seus ciclos menstruais num caderno que chamam de “Lua Vermelha”.
Nele elas registram o dia da menstruação e em qual Lua “desceu” seu sangue, pois a fase lunar nos auxilia também a compreender as nossas próprias fases e momentos de vida.
Por exemplo:
Lua Cheia: considera-se essa fase, a Lua mãe, como a Lua que está em sua potência máxima de energia e feminilidade. Mulheres que menstruarem nessa Lua estarão mais independentes, acolhedoras e intuitivas.
Lua Minguante: essa é a fase lunar da sábia anciã. Mulheres que menstruarem nessa Lua estarão mais introspectivas, fechadas em seu momento atual, meditativas, planejando segurança para a vida.
Lua Nova: a Lua da renovação! As mulheres que menstruarem nessa fase lunar se sentirão mais enérgicas, com novas ideias para sua rotina e entusiasmadas com outras possibilidades para a vida.
Lua Crescente: a Lua da jovialidade. Mulheres que menstruarem nessa fase podem começar a desenvolver seus planos, ideias, dar movimento às suas vidas, aproveitando momentos para a socialização e o desenvolvimento do que pode estar estagnado em seus dias.
Plantar a Lua. Conclusão:
Sangue é vida, é poder, é o fluído da Deusa que corre em nós. O resgate dessa fonte nos harmoniza de modo natural, nos empodera e desperta a consciência de quem somos, de como estamos e do que podemos fazer no aqui e no agora!
Cuide dessa energia, ame essa energia, pois ela serve como uma bússola para a compreensão de em que período da vida estamos.
E mesmo você mulher que já não menstrua mais, não pense que seu valor acabou, pelo contrário! Você vivenciou cada ciclo de poder e possui toda a sabedoria e a experiência que merecem ser compartilhadas.
Você já foi inclusive a menina que ainda não passou pela menarca (primeira menstruação). Poderá agora ensinar muito a jovens que estão nessa fase.
Somos cíclicas e, assim como ocorre com os nossos ciclos, devemos fluir naturalmente, como faziam as nossas sábias ancestrais. Assim fortalecemos a sororidade entre nossas atuais irmãs, respeitando e honrando nossa Grande Mãe, a geradora e doadora de toda a vida, a Deusa!
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