Existem muitas lendas acerca da vida de Pai Xangô. Digo lendas porque, sendo ele um orixá, é uma divindade,um deus, e não viveu encarnado, já nasceu orixá.
Em uma delas, se diz que Xangô comandava um exército, e este foi chamado para uma batalha contra um outro exército, mais forte e numeroso.
Pai Xangô não fugiu da batalha, mas estava perdendo muitos homens, e era claro que o outro exército ganharia a batalha.
Então, ao ver seu exército se acabando, bateu com seu machado em uma pedra e notou que da batida saíram faíscas que atingiam apenas os seus inimigos.
Então Pai Xangô foi batendo cada vez mais forte, até que os que sobraram do exército inimigo se renderam.
Quando voltou para a sua aldeia com os prisioneiros, os ministros da tribo pediram que estes também fossem abatidos.
Contudo, Pai Xangô se recusou a fazer o que eles pediam, pois não os julgava culpados. Na verdade, os soldados estavam apenas cumprindo ordens de seus líderes. Por isso, esses líderes que deveriam morrer, e não os soldados.
Xangô então ergueu seu machado para o céu e lá do alto caíram raios que atingiram os chefes dos inimigos, matando-os todos.
Esta lenda prova que Xangô é o Pai da Justiça. Ele não penalizou quem apenas recebia ordens. Penalizou quem deu as ordens.
A partir daí, foi considerado o Pai da Justiça, senhor dos raios e trovões.
Na Umbanda, quando um consulente precisa de ajuda em um processo judicial, é para Xangô que ele pede.
Quando uma pessoa está sendo injustiçada, é para esse orixá que ela pede.
No entanto, ele não enxerga apenas o dia de hoje da vida de todos nós, ele consegue ver nossas outras encarnações, e sua justiça será dada conforme o merecimento de cada um.
Ele é misericordioso e não cobra de nós nada além do que podemos pagar.
Como é o culto a Xangô no Brasil?
Xangô é muito cultuado no Nordeste brasileiro. Os filhos-de-santo dos estados de Pernambuco e da Bahia fazem parte dos terreiros mais antigos do país. A Casa Branca do Engenho Velho, por exemplo, foi a primeira casa de Candomblé da Bahia.
Vale lembrar que o Brasil é um país de sincretismo religioso, pois os descendentes de africanos, trazidos para cá como escravos, não podiam cultuar seus orixás, não eram livres para seguir a própria religião.
Por isso escolhiam cultuar os santos católicos que tinham características parecidas com suas divindades.
Foi assim que Xangô se tornou São João Batista e São Pedro, santos cuja origem reside na religião Católica, sendo cultuado no mês de junho, nos dias 24 e 29.
Na Umbanda, é representado por São Jerônimo, conhecido como o santo das Letras, uma vez que a pedido do Papa Dâmaso traduziu o Antigo e o Novo Testamentos da Bíblia para o latim. É cultuado em setembro.
Xangô na Umbanda:
- Dia de comemoração: 30 de setembro, sincronizado com São Jerônimo na Igreja Católica.
- Dia da Semana: quarta-feira
- Cores: marrom, branco e vermelho
- Cor da vela: marrom
- Guias: marrom
- Símbolo: machado
- Essência: cravo
- Saudação: Kao Kabecilê!
- Planeta: Júpiter
A ética de Xangô: quais seus valores?
Este Orixá protege aqueles que seguem a lei, os costumes, a ética e espalham energia positiva por onde passam.
Os que não fazem isso sentem o peso da cobrança para que possam se redimir e se corrigir e assim obter o crescimento espiritual. Ele é imparcial em seus julgamentos, dos quais ninguém escapa.
Ele favorece a expansão do conhecimento, a cura de doenças e o desenvolvimento intelectual. Por isso, os livros e o estudo do Direito são associados a ele. As questões políticas também são associadas ao orixá Xangô.
A saudação a Pai Xangô
Sua saudação é Kaô Kabecilê, que quer dizer, em nagô, “ Venham Saudar o Rei”.
É o rei porque é um dos orixás mais importantes e poderosos, tanto na Umbanda como no Candomblé.
Características dos Filhos de Xangô
Os Filhos de Xangô em geral possuem estrutura física forte, com tendência ao acúmulo de gordura, à obesidade. Mas há também magros elegantes.
Com muita energia e autoestima elevada, eles têm consciência da sua importância, do seu conhecimento e do seu poder.
Com postura nobre, estão sempre acompanhados, mas a solidão é um de seus estigmas. São amantes vigorosos. Estão sempre rodeados por amigos, em geral homens.
Apesar de serem egoístas, são incapazes de serem injustos com as pessoas. São extremamente austeros. Muito vaidosos, detêm o poder e o conhecimento intelectual. São obstinados, estrategistas, inesquecíveis.
Ambiciosos, querem sucesso, reconhecimento e fortuna. São inflexíveis e autoritários, ao mesmo tempo em que são bondosos, misericordiosos e generosos. Estes são os verdadeiros Filhos de Xangô.
Caboclos de Xangô
Já sabemos que orixá não incorpora em médium. Sua energia e força são insuportáveis para o corpo humano. Então o que nós incorporamos são os Caboclos de Xangô.
São eles que dão consultas, passes, conselhos e que trabalham no terreiro em dia de Gira de Xangô.
Seguem alguns caboclos e caboclas desse orixá:
- Ubiratan
- Urubatão da Guia
- Treme – terra
- Cobra Coral
- Guará
- Girassol
- Caramuru
- Caboclo do Sol
- Sete Luas
- Jupará
- Araúna
- Sete Luas
- Sete Caminhos
- Rompe-Serra
- Cajá
- Sete Montanhas
- Sete Cachoeiras
- Janguar
- Sete Estrelas
- Cachoeirinha
- Sultão das Matas, entre outros
Todos os caboclos que trabalham para Xangô, trabalham pela justiça, mas trabalham também pela saúde, pela prosperidade, pelo amor.
Enfim, trabalham para várias coisas, embora o forte deles seja a justiça. Trabalham para a ordem, para o que é certo e justo.
São contidos e rápidos.
Por conta disto, muitos caboclos podem se comportar de forma diferente, são sempre muito sérios e de poucas brincadeiras. Falam o que precisa ser falado e pronto.
Fumam charutos e bebem cerveja branca.
Oferendas para Xangô
Nunca faça uma oferenda sem que ela tenha sido pedida por uma entidade ou orixá. Oferendas precisam ter fundamentos, e para cada tipo de situação existe uma oferenda diferente a ser feita.
O mesmo vale para o local de entrega.
Aqui vou falar sobre a oferenda de Pai Xangô e não dos seus caboclos. Isso porque para cada caboclo o pedido pode ser diferente, ainda que a necessidade seja a mesma.
Amalá de Xangô
- Quiabos
- Mel
- Água
- Cebola
- Azeite de dendê
- Camarão seco
- Carne de peito
A forma de fazer será ditada pela entidade ou pelo Pai da Casa.
A entrega poderá ser feita em uma pedreira ou cachoeira, vai depender da necessidade do consulente.
Quizila de Xangô
Quizila é tudo o que vai contra o Axé (força, energia, sustentação) do orixá. Geralmente as quizilas são para os filhos do orixá e não para o orixá.
Filhos de Xangô não podem comer quiabo, nem comer camarão sem retirar a cauda e os espetos da cabeça do camarão.
O que pode acontecer se um filho comer o quiabo ou o camarão sem tirar a cauda e os espetos da cabeça?
Ele pode passar mal, simplesmente. Nada de ruim na vida acontecerá, mas ele terá uma indigestão e sentirá um mal-estar por isto.
Pode perder um pouco de energia, sentir-se fraco.
A incorporação de Xangô
Sabemos que são os caboclos de Xangô que incorporam e não o orixá.
A incorporação pode ser lenta, com passos lentos e uma dança muito discreta.
Em outros casos, porém, os passos podem ser mais rápidos e com danças mais rápidas. Quem incorpora bate as mãos fechadas, como se estivesse batendo duas pedras.
A diferença na incorporação se dá pela diferença na qualidade de quem está ali. Pode-se dizer, para não complicar muito as coisas, que podemos ter o orixá mais novo, por isso mais rápido, e o Xangô mais velho, por isso mais lento.
Mas ainda assim é sempre o Senhor da Justiça.
Conclusão:
Xangô é considerado um dos Orixás mais importantes e poderosos, tanto na Umbanda como no Candomblé.
Quando for pedir a Ele por justiça, tenha em mente que você também pagará por seus débitos.
“Quem deve paga e quem merece recebe” é o lema desse Orixá, cantado inclusive em vários pontos.
Orixá misericordioso, pode parecer bravo quando em terra, mas Ele não é bravo, é justo e gosta das coisas certas. Não suporta injustiças e luta contra elas.
Por isso, se você que está pedindo por ajuda for o injustiçado, Pai Xangô estará ao seu lado. Mas se você for o causador da injustiça, Pai Xangô também estará ao seu lado, cobrando pela injustiça cometida.
Kaô Kabecilê Meu Pai!
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