Pai Francisco veio para o Brasil, por um navio negreiro junto com seus pais e sua avó. Seu pai morreu, ainda no navio, de tifo. Logo, assim que chegaram ao litoral, ainda muito pequeno, foi separado de sua mãe e de sua avó e foi levado, por um carro de boi, até uma fazenda de plantação de café, em Minas Gerais, para trabalhar como escravo.

Ele era o responsável pelo corte da lenha no engenho, mas seu grande trabalho era a cura através das ervas, já que tinha adquirido todo o esse conhecimento de curandeiro com folhas de sua avó. Naquela época, os escravos não sabiam ler nem escrever. Pai Francisco então catalogava todas as ervas através de desenhos e testava seu poder de cura em seu próprio corpo, onde ele fazia pequenos cortes e experimentava o efeito de cada planta. Seu conhecimento era vasto, vinha de sua ancestralidade.
Assim, na época ele ganhou fama, e pelas suas curas ficou conhecido como Dr. Angola ou Dr. Pretinho. Ele utilizava as ervas de todas as formas: banhos, escalda-pés, alimentação, chás e, muitas das vezes, fazia trouxinhas em panos brancos para colocar nas feridas dos escravos açoitados.
Seu conhecimento gerava a inveja de alguns que tentavam imitá-lo e, muitas das vezes por falta de conhecimento, colhiam e utilizavam ervas venenosas. Quando isso acontecia, era Pai Francisco que fazia a cura.
Todo o seu talento como curandeiro o tornou um escravo muito procurado pelos senhores de engenho para ajudá-los com a saúde de seus familiares. Até o dia em que uma Sinhá foi dar à luz, teve complicações no parto e o chamaram para tentar resolver. Entretanto, era preciso escolher entre a vida da Sinhá e a do bebê. A Sinhá então determinou que salvassem o bebê e assim foi feito.
Inconformado com a morte da sua mulher, o dono da Casa Grande não acreditou nas palavras da parteira e, muito menos na do escravo. Por achar que eles teriam matado a sua mulher, determinou que seus capangas assassinassem os dois.
Pai Francisco conseguiu escapar. Fugiu e sumiu das vistas dos capangas. Entretanto, quando perceberam que não conseguiriam achá-lo, os capangas foram para cima de sua família e mataram sua mulher e seus três filhos.
Com a morte da sua família, Pai Francisco ficou muito triste e acabou definhando de tristeza até a morte.
Quando desencarnou, virou um espírito de luz que segue, até hoje, ajudando as pessoas com suas curas físicas e espirituais, além de fornecer muito aconselhamentos.
Uma de suas maiores mensagem é: “Faça o bem sem olhar a quem.” Já que ele não distinguia quem era escravo ou patrão. Bastava precisar de ajuda e ele estava sempre disposto a auxiliar.
Características do Pai Francisco

Pai Francisco, como todo Preto Velho, vem na linha das almas, mas irradia em todas as outras. Com isso, apresentamos seus falangeanos. São eles:
- Pai Francisco do Congo – refere-se a pretos velhos ativos na linha de Iansã;
- Pai Francisco de Aruanda – refere-se a pretos velhos ativos na linha de Oxalá.
- Pai Francisco D´Angola – refere-se a pretos velhos ativos na linha de Ogum;
- Pai Francisco das Matas – refere-se a pretos velhos ativos na linha de Oxóssi;
- Pai Francisco da Calunga, Pai Francisco do Cemitério ou Pai Francisco das Almas – refere-se a pretos velhos ativos na linha de Omolú/ Obaluaê;
Pai Francisco é um exímio batedor de ervas e trabalha ajudando aqueles que precisam também de cura espiritual e emocional.
Suas principais ervas são aroeira, alecrim e guiné.
Quase todos os pretos velhos trabalham utilizando um rosário. Entretanto, Pai Francisco de Angola, por exemplo, não o utiliza. Esta linha de preto velho trabalha com pedaços pequenos de panos brancos, que oferece aos consulentes, para utilizarem junto com as ervas para seus tratamentos físicos e espirituais. Portanto, não estranhe se um dia, em um terreiro, você identificar um preto velho sem um rosário na mão.
Pai Francisco gosta de cigarro tradicional, cigarro de palha ou cachimbo. Bebe café preto sem açúcar e usa chapéu de palha, acompanhado de uma bengala. A bengala é utilizada porque ele apanhava muito nas pernas, como castigo e, por isso, tem elas bem machucadas e fracas.
Geralmente se apresenta com roupas claras em tons de branco, palha ou até mesmo azul-claro. Suas guias são nas cores preta e branca.
Os médiuns que o incorporam, normalmente, chegam estalando os dedos setes vezes do lado direito para dar proteção e sete vezes para o lado esquerdo para fechar o corpo. Falam de maneira bem devagar e normalmente com os olhos cerrados. Além disso, na desincorporação sentem bastante dor na lombar e nas costas, própria da entidade.
Oração para Pai Francisco
Salve Pai Francisco!
Saravá o Cruzeiro das Almas!
Saravá o bondoso preto velho de Umbanda Pai Francisco, alma bendita e abençoada, que um dia nasceu nas terras da velha mãe África.
Suplico a tua força para me desamarrar dessas amarguras que depositaram em minhas costas.
Pai Francisco, o senhor foi um grande rezador e curandeiro; livrava os infelizes das ganas dos males físicos e espirituais. Ajude-me agora e sempre, por onde meus pés cansados caminharem.
Cruza a tua pemba imaculadamente branca, como são teus cabelos, pedindo a Pai Olorum, Pai Zambi e Pai Oxalá para trazer paz em minha vida e a angústia do meu coração desaparecer.
Ao fumar o teu cachimbo, tua fumaça faz desenhos no ar, carregando o medo, a calúnia e tudo o que venha fazer meu coração sofrer.
Oh meu Pai Francisco, com tuas ervas reze para abrir meus caminhos, espantando meus inimigos, os feitiços e as ciladas bem armadas, me livrando e livrando meu Anjo da Guarda.
Grande preto velho da seara da Umbanda, vencedor de muitas demandas, pois nunca o vi perder uma parada, me dê às vitórias de que preciso.
As Santas Almas te rendem homenagens, meu bom preto velho, e as almas sofredoras, como eu, pedem a tua luz para clarear quem vive nas trevas.
Pai Francisco, a partir de agora, respiro de alívio, pois sei que, diante desta reza, o meu hoje, o meu amanhã e o meu sempre serão de alegria e de muitas felicidades.
Ponto cantado do Pai Francisco
Pai Francisco de Aruanda, preto velho africano
No passado foi escravo, hoje é luz que está brilhando

Eu conheço sua história, sei de tudo que passou
Esta cicatriz nas costas foi chicote que marcou
Só não marcou seu coração que foi tocado por Jesus
É um mensageiro de Deus que ilumina os filhos seus
Alma repleta de luz
Pai Francisco de Aruanda, preto velho africano
No passado foi escravo, hoje é luz que está brilhando
Se seus cabelos são brancos, é a coroa que Deus deixou
Se os seu olhos são tristes, seu coração tem amor
Com seu rosário na mão e a cruz de nosso senhor
O doente sara e anda
Pai Francisco de Aruanda
Vai curando sua dor
Pai Francisco de Aruanda, preto velho africano
No passado foi escravo, hoje é luz que está brilhando
Com a sua fala mansa vai mostrando o caminho
Fala que quem crê em Deus nunca vai ficar sozinho
Pai Francisco de Aruanda, nosso velhinho do bem
Em nome de Jesus Cristo peço a Deus que lhe permita
Que nos proteja também
Pai Francisco de Aruanda, preto velho africano
No passado foi escravo, hoje é luz que está brilhando