O Livro dos Mortos egípcio é uma
coletânea de textos funerários de diferentes épocas, contendo fórmulas mágicas,
hinos e orações que, para os antigos egípcios, guiavam e protegiam a alma (o Ka)
em sua jornada pelo mundo dos mortos.
Segundo a tradição, o conhecimento desses textos permitia à alma expulsar os demônios que atrapalhavam sua jornada e superar os testes dos 42 juízes do tribunal do grande Osíris, um dos principais deuses da religião egípcia.
Esses textos também indicavam que a felicidade na vida após a morte dependia de o falecido ter ou não levado uma vida virtuosa na Terra. Ou seja, ressaltavam já na época a importância de uma espiritualidade sincera.
Os primeiros textos fúnebres que conhecemos foram gravados em hieróglifos nas paredes de dentro das pirâmides dos reis da quinta e sexta dinastias do Reino Antigo, e levaram o nome de “textos das pirâmides”.
No primeiro período intermediário
e durante o Reino Médio, era costume pintar esses textos em sarcófagos, prática
de onde deriva outro nome: “textos de sarcófagos”. Na décima oitava dinastia,
foram escritos em papiro, muitos deles com 15 a 30 metros de comprimento e com
ilustrações coloridas, colocados em sarcófagos.
O Livro dos Mortos começa com as
fórmulas que acompanharam a bendagem da múmia, enquanto os sacerdotes
posicionavam os vários talismãs, que segundo o que eles acreditavam servia para
proteger os mortos, em pontos específicos. Dizia um dos amuletos: “Você tem
poder, Ísis! Você conhece a magia! Este amuleto protegerá esta alma grandiosa.
Afastará aqueles que querem prejudicá-la!”
Quando a múmia estava pronta,
acontecia o Rito de Abertura da Boca tocando os olhos, o nariz, os lábios, os
ouvidos e as mãos. Essa fase do enterro está bem representada e preservada em
alguns túmulos de reis e nobres, como no caso de Tutancâmon.
Durante este ritual, a fórmula pronunciada era mais ou menos a seguinte: “Minha boca está aberta! A minha boca foi dividida por Shu com a lança de metal que ele usava para abrir a boca dos deuses. Eu sou o Poderoso. Vou me sentar ao lado daquela que reside no grande sopro do céu.”
Depois de várias outras etapas,
chegaria a hora do falecido aparecer na Sala de Julgamento. Uma das fórmulas
mágicas dizia: “Ó meu coração, não testemunhe contra mim! Não fique contra mim
durante o julgamento. Não seja hostil na presença daquele que segura a balança.
Essa fórmula, gravada nas costas
de um besouro e envolvida nas ataduras da múmia, ajudava a alma, segundo a
crença dos egípcios, a extrair o coração do corpo e o apresentava aos deuses.
Anúbis, o deus com cabeça de cão,
colocava o coração em uma balança e o pesava com a pena de Maet (também
conhecida como Maat, deusa da justiça e da ordem). Enquanto isso, Thot, deus da
sabedoria e escrivão dos deuses, esperava com sua pena na mão para que o
coração fosse julgado e depois pudesse escrever o veredito. Se o coração fosse
considerado culpado, o falecido morreria pela segunda vez, sem nenhuma outra possibilidade
de salvação.
Mas graças à proteção do Livro dos Mortos, segundo a mitologia egípcia isso nunca acontecia. O Livro dos Mortos já fornecia a preparação necessária para evitar o pior.
Osíris dizia após o julgamento que a alma tinha uma “voz sincera”, e assim ela poderia se juntar aos seus antepassados na Terra dos Juncos, uma espécie de Paraíso egípcio.
Livro dos Mortos: Um pouco mais sobre os deuses e a religião do antigo Egito.
Shu (também Chu, Sciu ou Schu):
Shu era um deus primordial, personificação do ar, da atmosfera e do vento. Ele
também foi o deus da luz que rompeu as trevas primordiais. Seu nome significa
“Aquele que eleva (ou levanta)” e isso se refere à sua principal função
mitológica: a separação de seu filho Geb, a terra, de sua filha Nut, o céu. Um
momento fundamental da criação do mundo. Mas também podia significar “Seco”
(referência à secagem pelo vento) ou “Vazio”.
Osíris: Osíris foi um rei mítico do antigo Egito. Inventor da agricultura e da religião, acreditava-se que ele reinou como civilizador e benfeitor da humanidade. Em uma das numerosas versões de seu mito, Osíris supostamente morreu afogado no Nilo, assassinado durante uma trama organizada por seu irmão mais novo, Seth. Apesar do seu corpo ter sido esquartejado, ele voltaria à vida graças às práticas mágicas das irmãs Ísis, que era também sua esposa, e Néftis.
Anúbis: Anúbis era o deus da mumificação e dos cemitérios, protetor do mundo dos mortos.
A alma (Ka): segundo os egípcios, era o que no mundo físico preservava as memórias e sentimentos da vida na Terra. Crescia com o homem e nunca o abandonava. Após a morte, precisava ser relembrada pelos entes queridos do falecido.
Havendo uma para cada
indivíduo, abrangia o temperamento e o conjunto de qualidades da pessoa.
O Akh: O Akh era uma substância espiritual mais elevada, que no momento da morte se reunia ao Criador. Subia ao céu e passava a brilhar como uma estrela. Era uma manifestação luminosa da energia cósmica.
Muitas vezes era descrita como um
íbis emplumado que voava para longe do corpo após a morte de um ser.
O Ab: O Ab ou Ib era o coração. Os antigos egípcios consideravam que fosse a sede de todas as emoções. E é talvez daí que vem a ideia que os sentimentos e emoções estão no coração, e não no cérebro, que desde o Egito passou de uma civilização a outra e chegou até nós nos dias de hoje.
O Sheut: O Sheut era a sombra, presente em todas as pessoas. De cor preta, era uma parte do espírito muito semelhante ao Ka e, em muitos aspectos, o oposto a ele. Enquanto o Ka tenderia a preservar os aspectos positivos da existência terrena, o Sheut seria a emanação formada pela presença de aspectos negativos.
Geralmente, a sombra era considerada o duplo imaterial de cada forma: e participava da conexão entre o corpo e os elementos incorpóreos do indivíduo.
Sou escritor e pesquisador nas áreas da religião, da literatura, do misticismo e da história.
Considero a espiritualidade a chave fundamental para o entendimento de nossas vidas, para encontrarmos o verdadeiro sentido de nossa existência, e todo meu trabalho é orientado nesse sentido.
Tenho livros publicados no Brasil e na Itália e sou formado em Letras pela USP e auricoloterapia pelo instituto EOMA, escola especializada em acupuntura e em outros ramos da medicina tradicional chinesa.
No campo da terapia e do aconselhamento, considero essenciais a empatia e o respeito ao livre-arbítrio alheio.
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