É famosa a oração de São Francisco que diz:
“Senhor,
Fazei de mim um instrumento de vossa Paz.
Onde houver Ódio, que eu leve o Amor,
Onde houver Ofensa, que eu leve o Perdão.
Onde houver Discórdia, que eu leve a União.
Onde houver Dúvida, que eu leve a Fé.
Onde houver Erro, que eu leve a Verdade.
Onde houver Desespero, que eu leve a Esperança.
Onde houver Tristeza, que eu leve a Alegria.
Onde houver Trevas, que eu leve a Luz!
Ó Mestre,
fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando, que se recebe.
Perdoando, que se é perdoado e
é morrendo, que se vive para a vida eterna!
Amém”
Está é uma das orações de criação de São Francisco que ficou para nós como uma grande herança espiritual. Ela resistiu ao passar dos séculos tanto pela imensa força e importância espiritual de quem a criou como pelo valor de suas palavras.
Vamos falar um pouco mais sobre ela, que talvez seja a mais famosa entre as preces do santo de Assis.
Oração de São Francisco: A importância da paz
Na oração de São Francisco em primeiro lugar, São Francisco pede a Deus para que faça dele um instrumento de Sua paz.
Devemos ter em mente que, assim como hoje, Francisco viveu em uma época em que havia violência e guerras. E ele mesmo, antes de sua conversão e de seu despertar, participou de batalhas.
Daí a importância que como santo ele dava à paz, a mensagem de Jesus para não nos apegarmos ao mal que nos fazem e não permanecermos em conflito com nosso semelhante.
Aprendemos, através dos ensinamentos do Cristo e por consequência de São Francisco, a oferecer a outra face. O que não significa sermos passivos e aceitar tudo, mas não deixarmos que as ofensas e o mal nos atinjam na profundidade. É uma questão de postura interior aliada a uma atitude interna serena.
Quem dá a outra face se mostra superior a quem se deixa envolver numa briga e entra em batalhas.
Podemos, é claro, reivindicar nossos direitos e combater as injustiças. Mas elas devem ter em mente sobretudo o bem coletivo. Afinal, quem nos faz mal hoje pode fazer mal a outros amanhã.
Quando às vezes ficamos furiosos quando algo fere nosso ego, estamos nos esquecendo de oferecer a outra face. Ou seja, de nos desapegarmos da ofensa para seguir em frente.
Só através do desapego mantemos a paz dentro de nós mesmos e com relação às outras pessoas. Não entramos em conflitos e assim o mal só fere nossa superfície. Além de, com frequência, impedirmos assim que um conflito ou uma briga maior estoure.
Que os outros queiram entrar em batalhas, não significa que você deva fazer o mesmo.
E é aqui que entra o seguinte ensinamento: levar o amor onde existe ódio.
É o ódio que produz guerra e violência.
Enquanto quando levamos o amor adiante, levamos a paz.
Vamos pensar no exemplo de Gandhi, na Índia.
Ele conseguiu a independência para seu país sem fazer recurso à violência. Não podemos dizer nunca que ele foi passivo ou fraco. Ele não ficou simplesmente parado depois de levar um tapa. Mas ele sabia ter em mãos outras armas.
Essas armas, que todo ser humano tem, são o amor e a caridade. E, paradoxalmente, elas desarmaram os colonizadores ingleses, que teriam tido que promover massacres que seriam condenados por toda a comunidade internacional se tivessem tentado manter a Índia como colônia.
Gandhi, mesmo pertencendo a outra religião, a hindu, era um admirador dos ensinamentos de Jesus e, portanto, podemos dizer que estava em linha com São Francisco. Assim levamos em conta a fraternidade que pode existir entre as religiões: cada uma nos seus aspectos específicos, tem seus próprios tesouros.
A importância do perdão
Quando não damos a outra face, mostramos que estamos ofendidos.
Nesse caso, não perdoamos quem nos golpeou.
O ensinamento de São Francisco vai na direção oposta, para levar perdão onde existe ofensa.
Quando perdoamos, nos sentimos mais leve. Como diz a oração pouco depois, levamos união a onde existia discórdia. Pois a ofensa é fruto de discórdia. E costuma ser o último recurso para alguém que não tem argumentos.
A importância da fé
Na oração de São Francisco, não poderia faltar também a menção à fé.
Estamos falando aqui de um dos principais místicos e religiosos de todos os tempos.
Logo, a fé era para São Francisco o ar que ele respirava. E não se trata aqui de um simples “crer”. A dúvida só pode ser realmente vencida quando sentimos, experimentamos no coração a presença de Deus.
Portanto a oração de São Francisco é um incentivo à nossa busca espiritual, a não desistirmos e seguirmos em frente sempre no caminho para nos elevarmos em direção à espiritualidade superior.
Essa espiritualidade corrigirá o nossos e portanto nos conduzirá a verdade. E a verdade, como diz a sabedoria bíblica, nos libertará.
A iluminação espiritual, em todas as tradições, é também uma libertação. Porque ela nos leva a perceber que, enquanto nos debatemos aqui na Terra em questões menores, somos prisioneiros.
Estamos presos à ganância, à cobiça, ao medo, à luxúria, à soberba e a tudo mais que nos bloqueia e corta nossas asas.
Asas que a fé cria junto com a esperança. E vencendo o medo e a desesperança, vencemos também a tristeza, porque quem tem esperança também consegue chegar mais facilmente à alegria.
Claro que todos vamos ter momentos em que estamos mais para baixo. Mas a tristeza profunda é também causada pela falta de esperança.
A oração de São Francisco visa também fortalecer a esperança em nosso coração, de modo a iluminá-lo.
É dando que se recebe
A oração de São Francisco também quer nos despertar para o fato que se somos egoístas e mesquinhos, também receberemos pouco ou nada.
Precisamos ser generosos se queremos que os outros sejam generosos conosco.
Não é preciso jogar pela janela as roupas do pai e doar tudo o que se tem para os pobres como fez o próprio São Francisco! São poucos os que têm esse nível de desapego.
Mas podemos por exemplo oferecer um bom conselho a um amigo. Ouvi-lo. Está já é uma forma de dar. Em troca, com certeza receberá afeto e gratidão
Se também não perdoamos, como podemos querer ser perdoados?
A espiritualidade é uma via de mão dupla. Não é um caminho para egoístas.
E o egoismo deve ir sendo de tal forma deixado de lado que mais adiante no caminho iniciático “morremos” para alcançar algo maior.
Deixamos de ser quem éramos para nos tornarmos algo melhor. E é então que ressuscitamos para a Vida Eterna, para uma vida superior, que pode ser uma consciência expandida.
No caso da morte literal, de nada adiantará esperarmos o Paraíso ou planos superiores se antes não tivermos realizado pelo menos uma fagulha da nossa essência.
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