O que é a Ira?
A ira é um dos sete pecados capitais, aquele que nos faz perder a luz da razão, que nos cega de raiva e nos faz explodir de uma maneira às vezes irracional com os outros e com nós mesmos.
Você é uma pessoa que o menor incômodo já faz você estourar? Por exemplo um problema no computador, uma desavença no trabalho, ou a crítica de outra pessoa a algo que você fez? Qualquer uma dessas coisas tira você do sério? Se a sua resposta é sim, então é hora de começar a contar até dez e rever um pouco suas atitudes.
É sempre o resultado de uma doença interna de mal-estar, que desperta por causa de algum estímulo externo e, de vez em quando, mostra uma ferida que sangra, que já estava lá, mas que de repente algo abriu, escancarou, e é como se o sangramento que antes estava controlado jorrasse em todas as direções.
Quando tomamos consciência da nossa ira, às vezes é tarde demais.
Consequências negativas da ira
Ela é um vício muito perigoso, pois é uma resposta imediata e impulsiva dos nossos sentidos, que oculta e camufla nossas próprias fraquezas espirituais, aquelas que não queremos ver ou deixar ir, porque é muito doloroso enfrentá-las. Aqueles que não queremos que ninguém toque, nem mesmo com palavras.
Por exemplo um projeto ou pessoa que nos é muito querido é criticado: nesse caso a sensação pode ser que todo o esforço, a dedicação que investimos naquilo ou naquele indivíduo ou relacionamento é tido como algo de pouco valor pela pessoa que nos critica, e então ficamos indignados.
Mas muitas vezes essa indignação esconde o quanto somos frágeis justamente porque nos identificamos com aquilo que é externo, e ao isso ser criticado encaramos como uma crítica a nós mesmos.
Se a crítica é realmente dirigida diretamente contra nós, contra eventuais falhas nossas, nesse caso podemos ficar furiosos porque eram falhas que acreditávamos ter corrigido e melhorado, mas que ainda estão lá. Ou então são falhas que não acreditávamos ter.
A ira traz à mente, ou melhor, aos sentidos mais primordiais, algo antigo, enraizado em nós. É como se despertasse dentro de nós aquela nossa fera animal. É uma fonte de agressão, algo que tem a capacidade de nos tornar bestas raivosas. E se nos sentimos ofendidos e ofendemos, acabamos gerando um ciclo de discórdia e ataques mútuos que apenas nos levam a criar inimizades e problemas.
A ira alimenta nossas frustrações e é alimentada por elas. É como lenha na fogueira. E é por isso que deve ser considerado um vício que precisa ser “curado”, porque nos leva a ofender e machucar outras pessoas ou a prejudicar a nós mesmos.
Há pessoas que numa crise de ira saem quebrando objetos. Nesse caso nenhuma outra pessoa é afetada se forem nossas próprias coisas, mas nos prejudicamos danificando nosso próprio patrimônio e podemos até nos machucarmos nessa crise de descontrole.
A ira também nos deslumbra. De certa forma ela pode parecer agradável, porque pode ser um desafogo. Ficamos aliviados despejando nossa raiva, mesmo que depois as consequências sejam negativas.
Ela nos faz deformar a realidade verdadeira e nos mostra uma que pretendemos destruir,desintegrar, como se esta fosse uma resposta adequada para a nossa angústia. Mas não é.
Quem é vítima desse pecado capital pode ser uma pessoa que sente muito medo de diversas situações. De algo em que acredita não ser o certo. De um projeto ou relacionamento dar errado. E acaba acumulando uma raiva tremenda que de repente direciona contra algo ou alguém que o fez explodir.
Os programas de tevê com notícias policiais falam o tempo todo de crimes cometidos por causa da ira. De pessoas que às vezes ferem ou até matam parentes próximos como pais e filhos, ou amigos e parceiros amorosos.
No caso do relacionamento amoroso, o ciúme pode ser uma grande fonte de ira. Mesmo que não se manifeste de imediato em uma explosão, de repente aquela raiva explode. E isso pode ter consequências muito negativas para os dois que estão no relacionamento.
As brigas que estouram entre os casais são claras manifestações de ira.
Como combater a Ira?
A Ira é o pecado ou vício visível por excelência, porque é capaz de desfigurar quem é vítima dele. O rosto de quem está com muita raiva se deforma, fica vermelho, às vezes pode se parecer com o de um animal feroz. A lenda do lobisomem é o reflexo de uma imagem relacionada à ira.
Ela produz também efeitos psicossomáticos: ela faz você perder o fôlego, gera um sentimento de asfixia e, portanto, não é acidental que a Bíblia chegue a usar a expressão “respiração curta” para descrevê-la.
E além do fôlego que falta, o jeito de falar também se torna gritado, e os gestos podem parecer ameaçadores.
Em resumo, todo o corpo parece explodir, e é melhor ficarmos longe de quem manifesta um ataque do tipo.
O que fazer então para combater a ira?
Um dos métodos mais eficazes é praticar meditação constantemente. A meditação ensina a pessoa a se observar, se acalmar, se interiorizar. A dar valor mais para sua essência, para seu eu interno, e cada vez menos para as turbulências externas. Pouco a pouco, a pessoa começa a se sentir menos afetada por ofensas e problemas.
Em casos extremos, pode ser necessária a ajuda de um terapeuta. A pessoa às vezes precisa de um tratamento clínico e também de alguém com quem desabafar que não seja alguém do seu convívio.
O clássico exercício de contar até dez também pode fazer algum efeito em casos de ira “mais leves”. Até porque contando até dez a pessoa dá um tempo para o coração desacelerar e pode ser o bastante para não se fazer uma besteira.
Às vezes é inevitável ficar nervoso ou com raiva. Não “explodir” uma vez ou outra na vida pode criar um barril de pólvora. E a pessoa pode queimar seu interior não deixando nunca um pouco de fogo saltar para fora.
A ira é um vício ou pecado quando se torna constante na vida de alguém, quando é regra e não exceção.
São Paulo chega a dizer: “Deixe a ira extravasar, mas não peque; que o sol não se ponha sobre a sua ira.”, ou seja, depois que o sol se pôs, que o dia acabou, deixe a ira ir embora. Se for estourar uma vez, estoure, mas não fique carregando o problema.
A ira é um grande problema e um vício quando se torna uma presença constante em nossos relacionamentos e nas situações da vida. Quando é sinal de desprezo e ódio em relação a algo, aos outros ou a nós mesmos.
A ira pode ser a negação do relacionamento, do diálogo, do encontro, dos acordos e alianças. Ela é quebra, rompimento, ofensa. É o terreno em que a agressão floresce e a violência contra o outro se desenvolve.
Respire fundo então e, quando a ira surgir, deixe ela passar! Não se apegue aos problemas. Porque é o apego aos problemas um dos fatores que levam à ira. Reflita que nada é permanente.
Amanhã será um dia melhor. Portanto, não permita que a ira estrague a sua vida. Centre-se no amor e na esperança. Cultive, pouco a pouco, a virtude oposta à ira, que é a paciência.