A cultura cigana e suas raízes: identidade cultural de longa data
Os ciganos nômades mantiveram sua identidade cultural apesar de séculos de perseguição, pressões de assimilação e até tentativas de genocídio.
De acordo com alguns historiadores, o povo cigano, também conhecido como Romani, veio de um único grupo de pessoas que deixaram o noroeste da Índia há cerca de 1.500 anos.
Eles chegaram à península balcânica há aproximadamente 900 anos e se espalharam por toda a Europa. Desde o século XIX, migraram também para as Américas em consequência da movimentação de populações do velho mundo para o novo.
A maior população cigana se concentra na Europa, particularmente na Europa Central e Oriental, embora também seja comum se deparar com eles nas metrópoles da Europa Ocidental, como Roma.
A língua Romani, ou cigana, é uma língua indo-ariana, e é falada por mais de 2 milhões de ciganos na Europa e nas Américas.
O povo Romani ficou conhecido popularmente como cigano na língua portuguesa, como gipsy em inglês, zingaro em italiano, gitano em espanhol, gitan em francês e czigány em húngaro.
No entanto, estes termos têm sido cada vez mais associados a calúnias pejorativas, devido à sua associação com a história de longa data de discriminação contra as pessoas ciganas.
Muitas vezes, uma pessoa sem rumo e sem laços é descrita como “cigana”, mas a tradição do povo cigano vai muito além disso.
Impacto da cultura cigana no mundo
O povo cigano, até agora, deixou seu maior impacto cultural no mundo da música, e os ciganos são bem conhecidos por suas danças festivas.
Apesar dos estereótipos, foi positivo haver uma representação da cultura cigana em uma novela como Explode Coração, mostrando um pouco de suas danças e tradições musicais.
As grandes distâncias que percorreram, e os países que atravessaram durante os séculos, resultaram em uma variedade de influências em sua música, começando com suas raízes indígenas.
Partindo de longe e viajando pelo planeta, eles adotaram elementos musicais dos povos grego, árabe, persa, turco, eslavo, alemão, judaico, romeno, francês, italiano e formas musicais semelhantes.
Há ainda uma tradição forte e vibrante da música Romani nos países eslavos e do leste europeu, particularmente na Hungria, na Romênia e nos países que formavam a ex-Iugoslávia, nos Bálcãs e seus arredores.
Diz-se que a essência da dança flamenca, tão característica da Espanha, provém do povo Romani da Andaluzia. Muitos Romanis eram instrumentistas e tocavam especialmente guitarra, violino e latão, embora sejam conhecidos por criar batidas e ritmos incríveis com suas mãos, pés, outras partes do corpo e objetos improvisados como colheres.
As origens diversas da cultura cigana
O povo cigano possui origens hindus, mas seus membros em sua maioria adotaram o cristianismo ou o islã, dependendo dos países por onde passaram, de suas culturas e de atividades missionárias.
Ceferino Gimenez Malla é considerado o santo padroeiro dos ciganos no catolicismo romano. Santa Sarah, ou Sara Kali, também foi tradicionalmente adorada como uma santa, mas uma transição ocorreu no século XXI, em que Sarah Kali passou a ser compreendida como uma divindade trazida da Índia por refugiados que foram antepassados dos povos Romani. Desse modo, foi removida a associação cristã.
A deusa em questão de onde deriva essa tradição, que pode tê-la formado ou no mínimo influenciado, provavelmente é a deusa Kali, poderosíssima divindade do panteão indiano, que combate demônios e ainda é de grande importância na Índia, sendo talvez tão relevante quanto Shiva e Vishnu.
Hoje em dia, Santa Sarah já está sendo considerada como uma deusa Romani e possui uma indiscutível ligação com a mãe Índia.
Os ciganos continuam a praticar Shaktismo, uma prática com origens na Índia, onde uma consorte feminina é necessária para a adoração de um deus.
A adesão a esta prática significa que, para os ciganos que veneram o Deus cristão, a oração é conduzida através da Virgem Maria ou de sua mãe, Santa Ana. E essa tradição cigana ainda continua bem viva, apesar de mais de 1000 anos passados desde a separação do povo da Índia.
Ciganos podem ser cristãos ou muçulmanos
A maioria dos ciganos é de cristãos ortodoxos, existindo uma pequena comunidade de muçulmanos que também fala turco.
Após a segunda guerra mundial, terminada a perseguição promovida pelos nazistas, um grande número de ciganos muçulmanos se realocou para a Croácia e a maioria se mudou para Kosovo.
A Ucrânia e a Rússia também abrigam populações muçulmanas ciganas, uma vez que as famílias dos imigrantes dos Bálcãs continuam a viver nestes locais. Os antepassados dos atuais ciganos da região se estabeleceram na península da Crimeia durante os séculos 17 e 18, mas a maioria dos descendentes migrou para a Ucrânia, para o sul da Rússia e para a região do Volga.
Formalmente, o Islã é a religião com a qual essas comunidades se alinham, mas as pessoas que as constitutem são conhecidas por sua preservação firme da língua e da identidade Romani.
Por causa da língua Romani, esse povo ficou conhecido por esse nome, e mais tarde pelo nome de ciganos.
À exceção de Kosovo, a língua Romani não é considerada oficial em nenhum lugar do mundo.
Os Ciganos no Brasil
Já no Brasil, é bem provável que o povo cigano tenha chegado por aqui, proveniente de Portugal, entre os anos de 1560 e 1570. Há registros históricos desse período em que alguns ciganos foram condenados e enviados para a colônia para cumprir penas.
Segundo conta a história, os portugueses trouxeram alguns ciganos com suas famílias com o objetivo de povoar parte da terra. Preferiam os ciganos a ter que lidar com o povo indígena.
Na época, a maior concentração da comunidade cigana se encontrava na Bahia e algumas outras região ao redor. Mas hoje em dia eles estão espalhados em todo o território brasileiro.
O último censo realizado pelo IBGE mapeou acampamentos ciganos em 291 cidades brasileiras, sendo que esse povo se concentra mais nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste, ainda dando um grande destaque para a Bahia, que possui a maior comunidade cigana.
Gostou do nosso artigo sobre a cultura cigana?
Adoraríamos conhecer sua opinião. Comente e compartilhe em suas redes sociais.
Gratidão